domingo, setembro 13, 2009

Acabei de reler um artigo que chegou de novo à minha caixa de correio, terá sido publicado no jornal "o Torrejano" e republicado em vários blogs. Aqui o deixo a quem interessar.


O atestado médico por José Ricardo Costa

Imagine o meu caro que é professor, que é dia de exame do 12º ano e vai ter de fazer uma vigilância. Continue a imaginar. O despertador avariou durante a noite. Ou fica preso no elevador. Ou o seu filho, já à porta do infantário, vomitou o quente, pastoso, húmido e fétido pequeno-almoço em cima da sua imaculada camisa.
Teve, portanto, de faltar à vigilância. Tem falta. Ora esta coisa de um professor ficar com faltas injustificadas é complicada, por isso convém justificá-la. A questão agora é: como justificá-la?
Passemos então à parte divertida. A única justificação para o facto de ficar preso no elevador, do despertador avariar ou de não poder ir para uma sala do exame com a camisa vomitada, abandalhada e malcheirosa, é um atestado médico. Qualquer pessoa com um pouco de bom senso percebe que quem precisa aqui do atestado médico será o despertador ou o elevador. Mas não. Só uma doença poderá justificar sua ausência na sala do exame. Vai ao médico. E, a partir deste momento, a situação deixa de ser divertida para passar a ser hilariante. Chega-se ao médico com o ar mais saudável deste mundo. Enfim, com o sorriso de Jorge Gabriel misturado com o ar rosado do Gabriel Alves e a felicidade do padre Milícias.
A partir deste momento mágico, gera-se um fenómeno que só pode ser explicado através de noções básicas da psicopatologia da vida quotidiana. Os mesmos que explicam uma hipnose colectiva em Felgueiras, o holocausto nazi ou o sucesso da TVI.

O professor sabe que não está doente.

O médico sabe que ele não está doente.

O presidente do executivo sabe que ele não está doente.

O director regional sabe que ele não está doente.

O Ministério da Educação sabe que ele não está doente.

O próprio legislador, que manda a um professor que fica preso no elevador apresentar um atestado médico, também sabe que o professor não está doente.

Ora, num país em que isto acontece, para além do despertador que não toca, do elevador parado e da camisa vomitada, é o próprio país que está doente. (Quem sabe o Ministério de Educação tem um acordo sub-reptício com a classe médica? Se os laboratórios farmacêuticos tem, porque não a Educação….?)


Um país assim, onde a mentira é legislada, só pode mesmo ser um país doente.

Vamos lá ver, a mentira em si não é patológica.

Até pode ser racional, útil e eficaz em certas ocasiões.

O que já será patológico é o desejo que temos de sermos enganados ou a capacidade para fingirmos que a mentira é verdade.
Lá nesse aspecto somos um bom exemplo do que dizia Goebbels: uma mentira várias vezes repetida transforma-se numa verdade.

Já Aristóteles percebia uma coisa muito engraçada: quando vamos ao teatro, vamos com o desejo e uma predisposição para sermos enganados.

Mas isso é normal.

Sabemos bem, depois de termos chorado baba e ranho a ver o 'ET', que este é um boneco e que temos de poupar a baba e o ranho para outras ocasiões.

O problema é que em Portugal a ficção se confunde com a realidade.

Portugal é ele próprio uma produção fictícia, provavelmente mesmo desde D.Afonso Henriques, que Deus me perdoe.

A começar pela política.

Os nossos políticos são descaradamente mentirosos. Só que ninguém leva a mal porque já estamos habituados.

Aliás, em Portugal é-se penalizado por falar verdade, mesmo que seja por boas razões, o que significa que em Portugal não há boas razões para falar verdade.

Se eu, num ambiente formal, disser a uma pessoa que tem uma nódoa na camisa, ela irá levar a mal.

Fica ofendida se eu digo isso é para a ajudar, para que possa disfarçar a nódoa e não fazer má figura.

Mas ela fica zangada comigo só porque eu vi a nódoa, sabe que eu sei que tem a nódoa e porque assumi perante ela que sei que tem a nódoa e que sei que ela sabe que eu sei.

Nós, portugueses, adoramos viver enganados, iludidos e achamos normal que assim seja.

Por exemplo, lemos revistas sociais e ficamos derretidos (não falo do cérebro, mas de um plano emocional) ao vermos casais felicíssimos e com vidas de sonho.

Pronto, sabemos que aquilo é tudo mentira, que muitos deles divorciam-se ao fim de três meses e que outros vivem um alcoolismo disfarçado.

Mas adoramos fingir que aquilo é tudo verdade. ( como nas novelas….também as vivemos como se tudo aquilo fosse verdade….!)

Somos pobres, mas vivemos como os alemães e os franceses.

Somos ignorantes e culturalmente miseráveis, mas somos doutores e engenheiros.

Fazemos malabarismos e contorcionismos financeiros, mas vamos passar férias a Fortaleza.

Fazemos estádios caríssimos para dois ou três jogos em 15 dias, temos auto-estradas modernas e europeias, mas para ver passar, a seu lado, entulho, lixo, mato por limpar, eucaliptos, floresta queimada, barracões com chapas de zinco, casas horríveis e fábricas desactivadas.
Portugal mente compulsivamente.

Mente perante si próprio e mente perante o mundo.

Claro que não é um professor que falta à vigilância de um exame por ficar preso no elevador que precisa de um atestado médico.

É Portugal que precisa, antes que comece a vomitar sobre si próprio.

URGE MUDAR ESTE ESTADO DE COISAS.
ESTÁ NA SUA MÃO, NA MINHA E DAQUELES A QUEM A MENSAGEM CHEGAR!

sexta-feira, agosto 21, 2009

O grande Rei disse... Decida-se.
Por todo o país começaram os estudos, as reuniões e os debates, reuniram os conselhos de sábios e os ultra sábios e os super sábios. Vieram todos armados com a sua sabedoria, fizeram citações ilustrissimas, fizeram-se cálculos do mais elaborados com as últimas técnicas estatísticas. Tudo foi minuciosamente estudado, foram dirimidos vários argumentos.
Todos discutiam, todos opinavam. Em todo o Reino só houve uma pessoa que não deitou faladura, não dirimiu argumentos, não fez cálculos, não deu a sua opinião.
O circululo dos grandes sábios reuniu mais uma vez e outra e outra até à exaustão. Produziram-se extensos documentos que foram reformulados uma e outra e outra vez. Para imprimir os documentos foi destruída uma floresta extensa tendo sido usada toda a celulose para a produção do papel.
Foram usados computadores para apoiar o trabalho, os estudos e os cálculos e chegou finalmente a hora da decisão.
Por todo o reino reuniram os vários conselhos de aldeões a quem competia a decisão final relativamente à decisão a aplicar na sua aldeia. Todos reuniram uma e outra e mais outra vez. Todos exprimiram majestosamente os seus argumentos, fizeram-se mais uma vez citações brilhantes, cálculos e mais cálculos, estudos estatísticos e outras maravilhas técnicas e científicas dos tempos modernos.
Todos decidiram sobre a cor. Todos excepto um que simplesmente diz
"A resposta não interessa quando a pergunta é absurda".
Todos ouviram admirados, todos pensaram que ele tinha razão, mas passado algum tempo ele foi fuzilado, o incidente foi esquecido e na sua aldeia decidiu-se que as bruxas eram amarelas e por todo o reino cada aldeia definiu uma cor para as suas bruxas.
Ninguém acredita em bruxas mas que as há, há e são rosas.

sábado, agosto 01, 2009

Consumidor exigente ou enganado e indiferente?



Dizia-me um amigo meu :

"...o problema é que ainda existem muitos equipamento que não funcionam no Linux?"

é verdade, apesar de esta situação ser cada vez menos frequente, ainda acontece.

mas acontece porquê?
será que é problema do Linux? ou será a arrogância dos fabricantes de hardware que querem impor ao consumidor produtos que implicam o maior lucro com a menor escolha?


A verdade é que estes fabricantes ao usarem sistemas proprietários não normalizados, impedem a criação de programas (drivers) que possam trabalhar com esse hardware e eles só fabricam esses drivers para alguns sistemas operativos. Tudo isto é feito numa lógica de um capitalismo selvagem sem qualquer respeito pelo consumidor. E nós, que fazemos em relação a isto? "comemos e calamos" ou mostramos a estes senhores o nosso descontentamento na única linguagem que eles percebem (comprando equipamentos que são fabricados numa lógica diferente)?

Quando eu comprar uma impressora, uma câmara web, ou outro dispositivo qualquer quero podê-lo instalar no meu computador independentemente de qual é o sistema operativo que eu uso. Quando eu comprar um leitor de ficheiros de música ou uma máquina fotográfica digital quero poder ligá-la ao computador através de uma porta usb (ou outra) sem complicações, sem precisar de instalar drivers nem "cabos estranhos". Quero que seja fácil, rápido e que funcione em qualquer computador com qualquer sistema operativo.


o que podemos fazer?


Podemos e devemos recusar formatos proprietários, podemos e devemos usar padrões abertos.
Quando eu quiser escrever um texto quero ter um programa que guarde um ficheiro num formato que possa ser lido em qualquer outro computador, independentemente do sistema operativo ou do programa de processamento de texto instalado - a isto chama-se interoperabilidade. Por isso eu uso ODF e uso ogg e outros formatos abertos.


Eu quero um computador que faça o que eu quero e que não faça o que eu não quero, não quero um computador que envie informações pela Internet sobre o que eu faço, por isso eu uso software software livre.


Eu quero usar um computador que não vá ficando cada vez mais lento, quero um computador que seja simples de usar, quero um computador que não esteja sempre a dar problemas, quero um computador que não esteja sempre com problemas por causa de vírus, por isso eu uso GNU/Linux, uso Ubuntu, uso Fedora, uso Caixa Mágica uso FreeBSD e tudo funciona muito bem.


Antes de comprar uma impressora, um scanner ou qualquer outro aparelho informo-me, se não funcionar em todos os sistemas operativos não compro? aqui, aqui, aqui, aqui aqui, aqui e aqui

sexta-feira, novembro 07, 2008

Mais uma mensagem recebida na minha caixa de correio

escola do presente
Quarta-feira, 22 de Outubro de 2008
A ESCOLA PÚBLICA E O FORDISMO
POR LUÍS TORGAL (Prof. Catedrático da Univ. de Coimbra)
A escola pública morreu, enquanto espaço democrático multifacetado (e idealista) de instrução científica e artística e de formação cívica — já o proclamei aqui algumas vezes. Foi abruptamente estilhaçada pelo maremoto das desconexas e demagógicas ordenações socratistas de 2008: novo estatuto do aluno, nova lei sobre o ensino especial, novo regulamento de avaliação de desempenho docente e novo modelo de gestão escolar. Foi desacreditada pela propaganda do ministério e da ministra que a tutelam e caiu em desgraça junto da opinião pública. Foi tomada por demasiados candidatos a futuros directores escolares embevecidos pelos decálogos de José Sócrates e inebriados pelas cartilhas sobre as dinâmicas de gestão no mundo neoliberal – afinal, as mesmas cartilhas que agora puseram o mundo à beira do caos. Foi pervertida pela imposição, por parte do Ministério da Educação, de um sistema burocrático kafkiano que visa obrigar os professores a fabricarem um sucesso educativo ilusório. Foi adulterada por alguns professores pragmáticos ou desprovidos de consciência crítica, os quais exibem a sua diligente e refinada burocracia como arma de arremesso para camuflar as suas limitações científicas, pedagógicas e culturais. E, neste momento, quando decorrem nas várias escolas eleições para os conselhos gerais transitórios, está a ser vítima de um já previsível mas intolerável processo de politização (no sentido mais pejorativo da palavra). Tal processo é dirigido por forças que em muitos casos se mantiveram durante anos alheados dos grandes problemas das escolas, mas que na actual conjuntura encaram estas instituições (outrora) educativas como tribunas privilegiadas para servirem maquiavélicos interesses de poder pessoal e/ou de carácter político-partidário.
A nova escola pública que está a emergir é uma farsa. Tornou-se um território deveras movediço, onde reina uma desmedida conflitualidade (e competitividade) social e política e uma grotesca e insuperável contradição entre os conceitos de 'escola inclusiva' e de 'pedagogia diferenciada'. Nesta instituição naufragaram, entretanto, num conspurcado lamaçal, os nobres ideais instrutivos, formativos e educativos. O famoso PC portátil 'Magalhães', ofertado em grande escala, numa bem encenada operação de marketing, a alunos do primeiro ciclo que cada vez sabem menos de Português ou Matemática e utilizam os computadores somente para simples divertimento é, de resto, o mais recente exemplo do sentido irreal e burlesco das prioridades deste sistema educativo.
A nova escola pública é hoje uma empresa gerida por muitos tecnocratas alinhados com a actual ordem política, e equipada por operários que se desejam amanuenses servis e catequizados na alegada única ideologia vigente (a qual — agora já todos o sabemos — se encontra manifestamente em crise). A verdadeira função desta espécie de mal engendrada e desalmada linha de montagem é produzir, automaticamente, em massa, de forma acelerada, e a baixos custos, duvidosos produtos estandardizados. Esta nova escola é, afinal, um hino ao velho Fordismo. O tal sistema que venerou o dinheiro como deus supremo do homo sapiens sapiens e que projectou um mundo sublime, onde o Homem é castrado da sua capacidade cognitiva e coagido a demitir-se das suas quotidianas obrigações familiares bem como de outros cívicos desígnios sociais em nome do lucro desenfreado (de uns poucos), da sobrevivência, do consumismo e do hedonismo desregrados. Aquele sistema perfeito superiormente ironizado por Aldous Huxley ('Admirável Mundo Novo') ou por Charlie Chaplin ('Tempos Modernos'), nos anos 30 do século XX, que está agora no epicentro de mais um 'tsunami' financeiro de consequências imprevisíveis para a humanidade, 'tsunami' esse cujas causas são reincidentes e estão bem diagnosticadas. Enfim, aquele implacável sistema materialista mecanicista e 'darwinista' cujo modo de vida John dos Passos também satirizou, numa obra datada dos mesmos anos 30 ('O Grande Capital'), com esta antológicas palavras: 'quinze minutos para almoçar, três para ir à casa de banho; por toda a parte a aceleração taylorizada: baixar, ajustar o berbequim-acertar a porca-apertar o parafuso. Baixarajustaroberbequimacertaraporcaapertaroparafuso, até que a última parcela de vida tenha sido aspirada pela produção e que os operários voltem para casa, trémulos, lívidos e completamente extenuados'.
'Porreiro pá!' Mas, pá, será esta a escola e o mundo que nós desejamos para os nossos alunos, para os nossos filhos?

quinta-feira, junho 05, 2008

Mais uma denúncia recebida na minha caixa de correio

... batendo as asas pela noite calada... vêm em bandos, com pés de veludo...» Os Vampiros do Século XXI :
A Caixa Geral de Depósitos (CGD) está a enviar aos seus clientes mais modestos uma circular que deveria fazer corar de vergonha os administradores - principescamente pagos - daquela instituição bancária.
A carta da CGD começa, como mandam as boas regras de marketing, por reafirmar o empenho do Banco em oferecer aos seus clientes as melhores condições de preço qualidade em toda a gama de prestação de serviços, incluindo no que respeita a despesas de manutenção nas contas à ordem.
As palavras de circunstância não chegam sequer a suscitar qualquer tipo de ilusões, dado que após novo parágrafo sobre racionalização e eficiência da gestão de contas, o estimado/a cliente é confrontado com a informação de que, para continuar a usufruir da isenção da comissão de despesas de manutenção, terá de ter em cada trimestre um saldo médio superior a EUR1000, ter crédito de vencimento ou ter aplicações financeiras associadas à respectiva conta.
Ora sucede que muitas contas da CGD,designadamente de pensionistas e reformados, são abertas por imposição legal.
É o caso de um reformado por invalidez e quase septuagenário, que sobrevive com uma pensão de EUR243,45 - que para ter direito ao piedoso subsídio diário de EUR 7,57 (sete euros e cinquenta e sete cêntimos!) foi forçado a abrir conta na CGD por determinação expressa da Segurança Social
para receber a reforma.
Como se compreende, casos como este - e muitos são os portugueses que vivem abaixo ou no limiar da pobreza - não podem, de todo, preencher os requisitos impostos pela CGD e tão pouco dar-se ao luxo de pagar despesas de manutenção de uma conta que foram constrangidos a abrir para acolher a sua miséria.
O mais escandaloso é que seja justamente uma instituição bancária que ano após ano apresenta lucros fabulosos e que aposenta os seus administradores, mesmo quando efémeros, com «obscenas» pensões (para citar Bagão Félix), a vir exigir a quem mal consegue sobreviver que contribua para engordar os seus lautos proventos.
É sem dúvida uma situação ridícula e vergonhosa, como lhe chama o nosso leitor, mas as palavras sabem a pouco quando se trata de denunciar tamanha indignidade.
Esta é a face brutal do capitalismo selvagem que nos servem sob a capa da democracia, em que até a esmola paga taxa.
Sem respeito pela dignidade humana e sem qualquer resquício de decência, com o único objectivo de acumular mais e mais lucros, eis os administradores de sucesso.
Medita e divulga... Mas divulga mesmo por favor ...
Cidadania é fazê-lo, é demonstrar esta pouca vergonha que nos atira para a miserabilidade social.
Este tipo de comentário não aparece nos jornais, tv's e rádios....Porque será???
Eu já fiz a minha parte.

sábado, novembro 03, 2007

O aberrante caso do cão barbaramente assassinado
Ao que parece, Guillermo Habacuc Vargas, segundo informação que circula na Internet terá amarrado um cão na sua galeria de arte deixando-o morrer à fome e à sede. Supostamente esta seria uma actividade artística. Será?!! Se o objectivo era chocar, certamente conseguiu, mas a que preço? Será que vale tudo? Será que não existe nem um resquício de respeito pelos direitos dos animais?!
Existe uma petição na Internet com o objectivo de Boicot a la presencia de boicotar a sua presença na Bienal Centroamericana Honduras 2008.

segunda-feira, junho 11, 2007

“Ordinariamente todos os Ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas. Porém, são nulos a resolver crises. Não têm austeridade, nem a concepção, nem o instinto político, nem a experiência que faz o Estadista. É assim que há muito tempo em Portugal são regidos os destinos políticos. Política de acaso, política de compadrio, política de expediente. País governado ao acaso, governado por vaidades e por interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência?”

Eça de Queiroz, 1867 in “O distrito de Évora”)